Retrato...

Já dizia o Pequeno Príncipe, "O essencial é invisível aos olhos"... 


Dorian Gray era ainda jovem quando foi tomado pelo orgulho e egocentrismo, dando lugar, em seu ser, às barbáries desse mundo. Tal qual Narcísico, Dorian apaixonou-se por sua própria aparência e acabou por encomendar um autorretrato à seu amigo artista. 

O jovem, corrompido por aqueles que o rodeavam, enveredava-se cada vez mais pelos caminhos da perdição. Era belo, mas ruiu a partir do momento em que a aparência tornou-se seu deus.

Cego pelo egocentrismo, fez um pacto com o inimigo para preservar sua aparência bela até sua morte, sua degradação só aconteceria no autorretrato e assim foi. 

Dorian cobriu o quadro, pois, à medida que se rendia à perdição, sua degradação interna crescia e o quadro a expunha, de modo que, ainda sendo jovem, foi tomado pela loucura e angústia, encerrando a própria história. 

O jovem viveu tal qual sepulcro caiado, belo por fora, mas abrigando degradação por dentro. 

Essa expressão, "Sepulcro caiado", foi usada por Jesus em Mateus 23:27 para se referir aos mestres da lei, suntuosos e de aparência santa, mas legalistas e sujos por dentro. Jesus os viu além da aparência, Ele os via por dentro como Dorian se via no autorretrato. 

Jesus não olhou e não olha a beleza das roupas e as atitudes supérfluas e fingidas, Ele olha o que está no interior, enxerga o nosso pior e morreu na cruz para lavar esse mesmo interior com seu sangue. 

Quando o rei Davi, ainda jovem, foi ungido pelo profeta Samuel, este, olhando com o olho dos homens, julgou que não seria ele, mas um de seus irmãos esbeltos e fortes. 

Segundo Santo Agostinho, o ser humano gosta do belo e nossos olhos correm em busca do impressionante e da beleza - "Os olhos amam a beleza e a variedade das formas, o brilho e a amenidade das cores [...]" - portanto, tendemos a julgar pela aparência, mesmo esta não revelando nem metade do que somos.

Assim, não é sobre vestes brancas que te fazem parecer santo ou palavras bonitas, é sobre um coração em constante redenção que reconhece seu mestre e, é a partir dessa identidade de discípulo e filho/filha de Deus, o interior frutifica.

Dorian diz, no decorrer do livro que, "Hoje em dia, as pessoas conhecem o preço de tudo e o valor de nada" [Oscar Wilde, O Retrato de Dorian Gray].

A cruz foi um alto preço que foi pago, mas será que reconhecemos, de fato, o valor do sacrifício de Jesus? Às vezes tenho a sensação de que preciso viver mais de acordo com a noção de que tudo, realmente tudo, tem haver com Jesus. É como um esquema, onde todas as linhas, ao final, repousam sobre Ele, no centro, que desnuda a alma.

"Tais coisas, com efeito, têm aparência de sabedoria, como culto de si mesmo, e de falsa humildade, e de rigor ascético;[...]" Colossenses 2:23



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